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19 de Abril de 2024

Advogados divulgam manifesto contra a Lava Jato

“Nunca houve um caso penal em que as violações às regras mínimas para um justo processo estejam ocorrendo em relação a um número tão grande de réus e de forma tão sistemática”, afirmam.

Publicado por Ylena Luna
há 8 anos

Dezenas de advogados penalistas e constitucionalistas redigiram manifesto contra a Operação Lava Jato. O documento foi divulgado nesta sexta-feira, 15, nos principais veículos de comunicação. Os advogados, entre eles defensores de políticos e empreiteiras sob suspeita de formação de cartel no esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014, afirmam que “no plano do desrespeito a direitos e garantias fundamentais dos acusados, a Lava Jato já ocupa um lugar de destaque na história do país”.

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“Nunca houve um caso penal em que as violações às regras mínimas para um justo processo estejam ocorrendo em relação a um número tão grande de réus e de forma tão sistemática”, afirmam.

O manifesto, que não cita nenhum protagonista da força-tarefa da Lava Jato, foi distribuído apenas alguns dias depois que o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, manteve na prisão o empreiteiro Marcelo Odebrecht – capturado na Operação Erga Omnes no dia 19 de junho de 2015, por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.

Subscrevem o documento nomes de grande prestígio na advocacia, profissionais que ao longo de muitas décadas travaram embates memoráveis nos tribunais, como Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, Antonio Carlos de Almeida Castro Kakay, Nabor Bulhões e Antonio Sérgio de Moraes Pitombo. O ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp também assina o manifesto.

Um trecho da carta é categórico: “O desrespeito à presunção de inocência, ao direito de defesa, à garantia da imparcialidade da jurisdição, o desvirtuamento do uso da prisão provisória, o vazamento de informações seletivas e confidenciais, a execração pública dos réus, dentre outros graves vícios, estão se consolidando como marca da Lava Jato, com consequências incalculáveis para o presente e o futuro da justiça criminal brasileira.”

A carta diz que “o que se tem visto nos últimos tempos é uma espécie de inquisição, ou neoinquisição, em que já se sabe, antes mesmo de começarem os processos, qual será o seu resultado, servindo as etapas processuais que se seguem entre a denúncia e a sentença apenas para cumprir ‘indesejáveis’ formalidades”.

E continua: “Nessa última semana, a reportagem de capa de uma das mais vendidas revistas semanais brasileiras não deixa dúvida à gravidade do que aqui se passa. Numa atitude ignominiosa e tipicamente sensacionalista, fotografias de alguns dos réus (extraídas indevidamente de seus prontuários na Unidade Prisional em que aguardam julgamento) foram estampadas de forma vil e espetaculosa, com o claro intento de promover-lhes o enxovalhamento e instigar a execração pública. Trata-se, sem dúvida, de mais uma manifestação da estratégia em prejuízo da presunção da inocência das pessoas e da imparcialidade que haveria de imperar nos julgamentos dos acusados - que tem marcado, desde o começo, o comportamento desvirtuado estabelecido entre os órgãos de persecução e alguns setores da imprensa”, registra.

“Esta é uma prática absurda e que não pode ser tolerada numa sociedade que se pretenda democrática, sendo preciso reagir e denunciar tudo isso, dando vazão ao sentimento de indignação que toma conta de quem tem testemunhado esse conjunto de acontecimentos. A operação Lava Jato se transformou numa Justiça à parte. Uma Justiça que se orienta pela tônica de que os fins justificam os meios, o que representa um retrocesso histórico de vários séculos, com a supressão de garantias e direitos duramente conquistados, sem os quais o que sobra é um arremedo de processo, enfim, uma tentativa de justiçamento, como não se via nem mesmo na época da ditadura.”

Os advogados afirmam: “É inaceitável – como já se fez várias vezes, sendo a última e mais inadmissível em face de Ministro integrante de uma das mais altas Cortes do país – que magistrados sejam atacados ou colocados sob suspeita pelo fato de decidirem ou votarem (de acordo com seus convencimentos e consciências) pelo restabelecimento da liberdade dos réus, a ponto de se fazer necessária, em desagravo, a insurgência e a manifestação de apoio e solidariedade de entidades associativas de juízes. Isto é gravíssimo e além de representar uma tentativa de supressão da independência judicial, revela que aos acusados não está sendo assegurado o direito a um justo processo.”

Os causídicos da Lava Jato avaliam que “é de todo inaceitável, numa justiça que se pretenda democrática, que a prisão provisória seja indisfarçavelmente utilizada para estimular a celebração de acordos de delação premiada, como, aliás, já defenderam publicamente alguns Procuradores que atuaram no caso”.

“Num dia os réus estão encarcerados por força de decisões que afirmam a imprescindibilidade de suas prisões, dado que suas liberdades representariam gravíssimo risco à ordem pública; no dia seguinte, fazem acordo de delação premiada e são postos em liberdade, como se num passe de mágica toda essa imprescindibilidade da prisão desaparecesse. No mínimo, a prática evidencia o quanto artificiais e puramente retóricos são os fundamentos utilizados nos decretos de prisão. É grave o atentado à Constituição e ao Estado de Direito e é inadmissível que Poder Judiciário não se oponha a esse artifício.”

Publicado em Gazeta do povo

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127 Comentários

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Pelo contrário. Posso afirmar com todas as letras que a opinião externada no manifesto redigido pelos causídicos, mais se assemelha a uma manifestação de criadores e contadores de "causos".

Outro número extremamente superior de juristas creditam à lava jato um lugar de destaque pela coragem e pela idoneidade na condução dos processos.

Intitulam-se advogados penalistas e constitucionalistas e desconhecem que a lei trata de COLABORAÇÃO PREMIADA e não DELAÇÃO como insistentemente a chamam.

Por isso, fica prejudicada qualquer análise ao manifesto por eles externado pois não demonstram conhecimento técnico necessário ao enfrentamento. continuar lendo

Excelente comentário!

Acrescento que tais advogados parecem ser muito bons tecnicamente, mas as manifestações que fizeram contra a Lavajato foram políticas e não jurídicas. continuar lendo

O Mensalão terminou naquela piada de mau gosto, em que o núcleo político escapou.

Não consegui entender como a pena de Marcos Valério, operador financeiro, pode ser maior que a condenação de Dirceu, um dos mentores políticos do esquema.

Também tenho dificuldades em entender como, no Mensalão, não conseguiram colocar as mãos no chefe da organização.

Quem sabe, a Lavajato esteja se aproximando perigosamente dele e, por isso, o desespero dos causídicos ao redigir esse texto "comovente". continuar lendo

Perfeito, Dr Nadir!
É o "jus esperniandi" dos cardeais que teorizam a justiça a favor de seus clientes milionários ... "Dar a cada um o que é seu..." .Eles pensam que o Brasil é só deles! É reação típica da Grande Impostura! continuar lendo

Tudo isso é devido ao fato de que a operação está chegando perto do chefe e eles não tem mais argumentos para defende-lo. continuar lendo

A moral da história é a seguinte: os advogados que põe comida na mesa às custas da miséria e desgraça alheia dizem (choram) que a mídia está pressionando o Judiciário ... então resolveram fazer o mesmo através do que se chama de psicologia reversa. continuar lendo

Excelente comentário! Parabéns Dr. Nadir Tarabori e, com o devido respeito, seja-me permitido fazer minhas as suas palavras.
Sou do 'Outro número extremamente superior de juristas creditam à lava jato um lugar de destaque pela coragem e pela idoneidade na condução dos processos." continuar lendo

Isso aí Nadir , e mais - mesmo sendo leigo em Direito - falar em "presunção da inocência" pra quem recebe 50 Mil e paga 5 Milhões só ao advogado já a perdeu. continuar lendo

Ao que parece os advogados da "malandragem" estão estendendo a defesa dos seus indiciados à população, o que pretendem? ... uma manifestação de "ABAIXO OS HONESTOS"? Fora os indignados com a roubalheira..?
Pode até estar havendo alguma discrepância muito sutil e menos traumática que uma revolução sangrenta, mas.., se reduzir essa cambada desgraçada que3 vemos todos os dias parabéns à LAVA JATO! continuar lendo

"Outro número extremamente superior de juristas"? Juristas? Quem? Me aponte um único nome de peso ao lado de vocês! Mas, atenção! Estou falando de peso mesmo. Vamos estabelecer o seguinte critério: tem que ter pelo menos uns dez livros publicados e ter sido citado pelo menos em uns cem acórdãos. continuar lendo

Cesar Heitor, agradecemos sua bem humorada participação.

Os bacharéis autores do manifesto se sentiram inferiorizados com seu comentário pois, nenhum deles possuem um só livro publicado e jamais foram citados e local algum.

Por outro lado, os mestres e doutores, mesmo sem tantas referencias, se sentiram prestigiados por você.

Pelo seu posicionamento e pelas suas exigências, imaginamos que vossa senhoria pudesse AJUDAR grandes nomes da comunidade jurídica mundial.

Obrigado por prestigiar a comunidade.

Um forte abraço. continuar lendo

Curioso que nessa lista consta o nome de um jurista que vive pregando que juiz decide por princípio e não por política mas no entanto ele quer, ao que me consta, justamente o contrário. Que "belo" exemplo desse senhorzinho. continuar lendo

Só quem não quer não vê que entre estes há muitos advogados de peso, tenho certeza que dentre eles existem dezenas de advogados com muito, mas muito mesmo mais do que cento e vinte quilos ah..! tem sim!! continuar lendo

Interessante a questão. Em um País onde a corrupção corre á solta e há uma imensidão de recursos para provar que alguém é culpado, para quem tenha recursos para pagar, e que, ao final de tantos recursos o prazo prescreveu, um artigo desse, não me referindo ao autor, assombra ao povo sofrido e assacado, que não tem a quem procurar para que o defenda, de seus justos direitos, pois que, afinal de contas, a ladroagem, não importa de onde venha ou para onde vai, retira dinheiro daquele que paga seus impostos corretamente e que para isso sua não o suor, mas o sangue. Olhando o cenário como um todo, com crises de toda ordem, com pessoas que se sentem acima do bem e do mal, assusta-nos ler que ainda discutem os atos de um dos poucos Juízes do País que não se dobre a interesses mesquinhos. Quem mal o fez terá que se responsabilizar pelas consequências desse. Pena é que também não estejam ombreados em celas não só quem corrompeu mas também quem foi corrompido. Aliás, essa coisa de corrompido é mais uma questão psiquiátrica, já que está associada ao caráter do indivíduo, do que de justiça. Eu pago meus impostos e a cada dia tenho menos condições de comprar o que preciso para meu sustento. Agora mesmo lí que uma das obrigações constitucionais do governo, a saúde, que a muito foi terceirizada aos planos de saúde, apresenta um prejuízo muito acima do valor medido ou calculado da inflação. Quem terá condições de continuar com seus planos de saúde, já que os hospitais públicos sequer remédios possuem, e há pessoas de ganham milhões em licitações fraudulentas? O mesmo pensamento da fraude passa pela cabeça de muitos quando analisa o caso da lava jato e ainda se lembra do mensalão de de outros "esquemas fraudulentos". Independentemente da pessoa ser pobre ou rica os direitos são os mesmos e não pode ser diferente. Se a pessoa apresenta riscos de continuar "aprontando" faz bem mantê-la em um local onde possa refletir que provocar o mal a muitos termina não sendo um bom negócio. Quanto aos advogados que subscreveram os documentos, esses estão fazendo o que lhes cabe e representando seus clientes. Se são famosos ou não , não é algo que importe. Apenas estão cumprindo com suas obrigações. Precisamos rever nossos conceitos de tolerar os erros, se esses forem cometidos por poderosos, e prender os ladrões de galinha, e, para esses, não há recursos ou tornozeleiras. Que o diga uma mãe de Belo Horizonte que ficou na cadeia por furtar de um supermercado uma lata de manteiga, daquelas bem pequenas, para levar para casa e alimentar os filhos. Essa senhora ficou encarcerada por quase seis meses. Será o crime dessa senhora muito pior do que daqueles que fraudaram licitações causando prejuízos bilionários ao povo brasileiro? Qual deve ser o peso e a medida para se comparar os delitos? continuar lendo

TJMG matando de vergonha, como sempre! continuar lendo

Seria estranho se o manifesto fosse em favor da lava jato, afinal, quem assina esse manifesto são os defensores constituídos de réus da lava jato. Façam-me o favor!!!! continuar lendo

Talvez fosse bom pegar também esses caras! continuar lendo

Os ilustres advogados deveriam saber que presunção de inocência não é um princípio absoluto, tanto mais quando se trata de flagrante delito, como no caso do senador Delcídio do Amaral e de confissão, como no caso dos delatores da operação lava-jato.

Quanto ao enxovalhamento por meio de fotos dos acusados tiradas na unidade prisional, tal ocorrência não pode ser atribuída ao Poder Judiciário, porque não é crível que qualquer juiz as tenha autorizado. Demais disso, as fotos se devem ao fato de grande parte dos acusados serem pessoas públicas e, por isso, o interesse da sociedade no acompanhamento da punição à pilhagem de seu patrimônio, interesse este do qual a imprensa não pode se afastar, máxime num país que consagra o princípio da liberdade de informação. Ademais, fotos de criminosos saem todo dia nos jornais e ninguém reclama. Por que reclamar quando se trata de políticos e empresários envolvidos com corrupção? Eles são melhores do que os bandidos comuns?

Com relação à defesa do julgamento do rito do impeachment da Presidente da República, convém lembrar que ocorreu o contrário na época do Mensalão. Os advogados dos réus queriam até levar a decisão do STF para uma Corte Internacional de Justiça porque, entre outras, havia a condenação de políticos. É um peso e duas medidas.

No que concerne à prisão cautelar em razão de os acautelados oferecerem risco à ordem pública e serem soltos após fazerem acordo de delação premiada, é perfeitamente natural que o risco acabe com a delação, pois já deram o serviço e não têm mais interesse em obstruir as investigações, até para não retornarem ao cárcere e verem suas penas agravadas. Trata-se da lógica do instituto, por sinal muito bem-vindo em nossa legislação

Penso, pois, que esse manifesto é mais uma expressão do popularmente conhecido "jus chiandi". Os argumentos, porém, são pífios diante da magnitude da roubalheira promovida por membros de classes sociais privilegiadas, as quais sempre encontraram refúgio nos porões da impunidade. continuar lendo